Referência para gerações de criadores, exemplo de dedicação, generosidade e paixão pelo que fazem. Assim são lembrados Regina e Eurides Carneiro de Mattos, fundadores da Fazenda Planalto, localizada em Castro (PR), que anunciaram recentemente o encerramento de suas atividades na criação da raça Suffolk. A notícia marca o fim de uma era para a ovinocultura brasileira, que perde dois de seus maiores ícones no campo da seleção genética e do fortalecimento institucional da atividade.

A história da Fazenda Planalto começou em 1980, quando o casal recebeu os primeiros animais Suffolk trazidos pelo antigo Café do Paraná. Desde então, nunca mais deixaram a lida. Mais do que criadores, Regina e Eurides foram – e seguem sendo – verdadeiros mestres e incentivadores da ovinocultura. Conhecidos carinhosamente como os “pais” do setor, eles ensinaram, acolheram e inspiraram criadores por todo o Brasil, sempre com generosidade, firmeza de propósito e uma simpatia que cativa.

Ao longo da trajetória, somaram mais de 500 troféus, participaram ativamente da formação e consolidação da Ovinopar – Associação Paranaense de Criadores de Ovinos – e ajudaram a transformar a raça Suffolk em referência nacional de qualidade. Mas o reconhecimento mais valioso está nas lembranças e aprendizados que deixam com cada pessoa que cruzou seus caminhos.

Nesta entrevista, Regina e Eurides falam sobre o início da cabanha, os momentos marcantes da jornada, os motivos da despedida e a forma como gostariam de ser lembrados. Uma conversa que emociona, inspira e fecha um ciclo com a grandeza de quem deixa, sim, a criação – mas nunca a paixão pela ovinocultura. Confira:

Como e quando começou a história da Fazenda Planalto?

Regina e Eurides – Antes de tudo, agradecemos muito pela oportunidade. Essa entrevista fecha um ciclo com chave de ouro. Nossa história começou em 1980, com a chegada de animais da raça Suffolk em uma importação do Café do Paraná. A princípio, era uma oportunidade de negócio. Mas bastou o primeiro contato para o coração falar mais alto. Nos apaixonamos. No começo, foi duro. Nós tínhamos outras profissões, então, conciliávamos tudo com muito esforço, o trabalho era dobrado. Mas o amor pelos animais sempre nos deu força.

O que motivou vocês a escolher a raça Suffolk PO?

Regina e Eurides – A beleza da raça nos encantou de imediato: aquele contraste marcante entre o preto e o branco, a postura firme, o porte elegante. Depois, fomos descobrindo as qualidades técnicas: precocidade, carne de excelência, genética avançada. Mas foi o encanto inicial que nos prendeu. E nunca mais soltou

Quais foram os principais desafios e conquistas ao longo dessas décadas de criação?

Regina e Eurides – Em mais de 45 anos, tanta coisa aconteceu…Tivemos que nos reinventar várias vezes, adaptar-nos a transformações do mundo e do mercado. Nunca deixamos de buscar excelência. As conquistas vieram desde o início, são mais de 500 troféus, reconhecimento por todo o Brasil e fora dele. Mas o maior prêmio sempre foi o respeito e o carinho das pessoas. A ovinocultura nos deu amizades, alegrias e um propósito.

Existe algum momento marcante que representa bem a trajetória da cabanha?

Regina e Eurides – São tantos… Mas destaco dois. O primeiro, a honra de receber o Troféu Ovelheiro, oferecido pela ARCO, no Rio Grande do Sul, sendo a primeira mulher a conquistar esse prêmio histórico. E o segundo não é um momento, mas uma cena repetida: o dia a dia da cabanha. O esforço silencioso da lida. É ali que a mágica acontece.

Vocês têm algum animal ou linha genética da qual se orgulham especialmente?

Regina e Eurides – Nos orgulhamos de cada animal que passou pela nossa cabanha, sem exceção. Todos carregam consigo um pedaço do nosso cuidado e dedicação. Nos últimos anos, tivemos a alegria de trabalhar com uma linhagem extraordinária de Suffolk sangue inglês, que nos trouxe ainda mais orgulho. Cada exemplar tem seu valor único e foi criado com amor, o que, para nós, sempre fez toda a diferença.

Como vocês veem a contribuição da Fazenda Planalto para a ovinocultura no Paraná e no Brasil?

Regina e Eurides – Fizemos tudo com muito amor e seriedade. Lutamos pelo fortalecimento da ovinocultura, especialmente pela valorização da raça Suffolk. Viajamos, ensinamos, aprendemos. Sempre fomos bem acolhidos e reconhecidos. Esperamos ter deixado uma semente de inspiração por onde passamos.

O que motivou a decisão de encerrar esse ciclo agora? Foi uma decisão difícil? Como está sendo esse processo de despedida?

Regina e Eurides – Foi a decisão mais difícil da vida. O coração queria continuar, mas o corpo já não acompanha. Sempre estivemos no pesado, no manejo direto, na lida do dia a dia. Não fomos apenas criadores, fomos operários da nossa paixão. Encerrar dói. Mas também é um ato de coragem. Estamos deixando o palco com a alma cheia e o coração em paz.

Vocês pretendem continuar ligados à ovinocultura de alguma forma, mesmo sem a criação?

Regina e Eurides – Com certeza. A ovinocultura corre nas veias. Agora, queremos contribuir de outras formas, com palestras, com ensino, com palavras. Já recebemos convites e isso nos alegra demais. É uma nova fase, mais leve, mas ainda com os pés firmes nesse chão que tanto amamos.

Como vocês gostariam de ser lembrados dentro da comunidade da Ovinopar?

Regina e Eurides – Como aquele casal que deu tudo de si. Que trabalhou com força, com alma, e sempre foi além, mesmo quando as forças já faltavam. Que acreditou no valor do esforço diário, da entrega verdadeira. E que agora se despede com o coração sereno e cheio de gratidão.

Alguma palavra especial para os colegas criadores, parceiros e amigos que acompanharam essa jornada?

Regina e Eurides – Obrigada. Mil vezes, obrigada. A cada criador, parceiro e amigo que cruzou nosso caminho ao longo dessa jornada. Cada gesto de apoio, cada conversa, cada aprendizado, tudo isso construiu a história da Fazenda Planalto. Eu gostaria de citar cada nome, um por um, olhar nos olhos e agradecer. Mas como não é possível, deixo aqui um abraço profundo à OVINOPAR, que simboliza todos vocês. Levamos cada lembrança como um tesouro e vocês viverão para sempre em nossa memória e em nossa gratidão.

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Por Natália de Oliveira/Agência Agrovenki
Fotos: Arquivo pessoal/Fazenda Planalto

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